Derramo na praça as últimas migalhas matinais do meu croissant, quentinho e baratinho, que pego ali na estação de metrô. Observo o vai e vem húngaro e nem penso em nada além da maciez amanteigada que tenho em mãos. Mais uma vez não estou sozinho. Ela está lá, me fitando a uma distância cada vez menor. Quando viro a cabeça devagar, mastigando sem elegância, ela finge sem saber fingir. Dá uma volta, um passo lateral. Parece uma valsa desajeitada. Eu não faria pior. Nossa comunicação fica mesmo apenas no olhar. A cena vai caminhando em andamento até repetitivo, enquanto percebo exacerbar a quantidade de migalhas do folhado que pairaram e se instalaram momentaneamente no chão da Kálvin tér. Finalizada tal iguaria, levanto da mureta, olho decisivo pelo última vez para ela, e observo que agora são em três. Menos tímidas. Nem me fitam mais. Caminham agora em marcha rumo as ruínas de um saudoso café da manhã. Não gosto de despedidas. Nem olho para trás.