armas

Parabéns a todos os artistas, educadores, jornalistas e profissionais da informação, que mantém o pulso firme, ainda que doloroso, respeitando a plena essência de sua atividade. Que não são tomados e por vezes corroídos profissionalmente pelos braços envolventes e perniciosos da publicidade, que confiam plenamente em seus valores éticos e morais; que de fato são dignos de lidar com a mais poderosa arma do ser humano: a comunicação.

“kis Balázs” (Garoto com a pequena bola)
Erős Apolka
2015

Escultura inspirada na obra do poeta Attila József.
Exposta em Gödöllö – Hungria
Foto: Felipe Gavioli

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estantes do desconhecimento

A impossibilidade de tatearmos todas as coisas que nós humanos produzimos e que nutrimos interesse, é sem dúvida assombrosa.

Da janela de um trem, observamos paradas que jamais descobriremos. Nem sentiremos o cheiro. Nos colocarmos pequeninos perante tudo isso não nos faz menores e nem amplia qualquer desânimo, pelo contrário. Outras luzes permanecem acesas.

A mínima descoberta individual amplia todo um mundo, e mais ainda, amplifica o sabor reverberante de cutucar nossas estantes de possibilidades infinitas e felizmente, desconhecidas.

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aurora

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Confesso que até pouco tempo atrás, além de pouco saber, também pouco me interessava sobre a Islândia.

Sim, desconhecimento e pura ignorância, talvez por crer no meu íntimo mais devastador e obtuso que um lugar desses fosse apenas um arquipélago de montanhas glaciares, com uma cultura comum aos seus pares nórdicos. Ah, claro, ter a ideia que Björk e o Sigur Ros surgiram de lá, talvez por terem aterrissado de algum planeta que esteja atrás das cortinas da aurora boreal.

Acima disso, há a soberba natural e insistente que somos levados a acreditar que as engrenagens do planeta estão alocadas nas metrópoles. Um estrago. Um pensamento conservador. Bom, mas acredito demais no ‘leitmotiv’ primordial da arte, que nos alimenta e nos salva. 

Já tinha visto algum título islandês de cinema, mas em 2015 a Mostra Internacional de Cinema de SP, promoveu um grande panorama de cinema nórdico. E entre Dinamarca, Finlândia, Suécia e Noruega, a Islândia era o tal do “peixe pequeno”. E foi o que mais me encantou.

Títulos atrás de títulos, nenhum era apenas “bom”. Eram de ótimos para cima. Estive em um debate com o diretor do filme “Hrútar”, Grímur Hákonarson, no qual ele afirmou que o banco de atores local é bem pequeno, devido a dimensão populacional do país. Isso pode nos dar a dimensão de um suposto limite artístico, se não houver prudência na concepção dos roteiros. É preciso respeitar o público e os seus próprios meios de trabalho. Em tempo, “Hrútar” é o seu filme de estreia e levou o prêmio ‘Un Certain Regard’ no Festival de Cannes de 2015.

Caindo diretamente na Alliaz Riviera em Nice, na França, o mundo esportivo presenciou um assombro, algo raríssimo. Uma equipe até agora sem nenhuma expressão no futebol, sem uma grande liga, sem jogadores badalados, bate a mais tradicional equipe de futebol do planeta, com sua estrutura estelar e centenária.

Quem já bateu uma bola ou acompanha atentamente o futebol sabe que isso não é possível por acaso, ou na verdade, isso é quase impossível. Jogadores que corriam atrás da bola como se não houvesse o amanhã. Uma disciplina tática em que não havia nenhuma vaidade. Todos por todos. Do outro lado, a equipe da Rainha pareceu não se preparar para o embate. Ao fazer o primeiro gol, de pênalti, a Inglaterra nem comemorou como se tivesse feito algo tão grande. Pareciam esperar uma saraivada de gols nas redes islandesas. O salto alto derruba qualquer um no momento certo.

O mundo ficou admirado no fato de cerca de 10% da população total da Islândia tenha se deslocado para a França, para acompanhar sua seleção. Talvez fiquem ainda mais perplexos com essa população aguerrida, de cerca de 320 mil habitantes, um pouco maior que a região da Lapa em São Paulo. Ciência, tecnologia, cultura e uma qualidade de vida social das mais altas do planeta, em um território quase inóspito, mas recheado de surpresas e belezas, como esta que proporcionou ao velho futebol.

Foto: Football Iceland

que dia é hoje?

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Talvez na intenção infantil de replicar alguns costumes do meu Vô, o fato é que desde criança tenho o costume antigo de ler o jornal pela manhã, ou ao menos, se inteirar de boa parte dele. Um hábito totalmente arraigado. Ainda me deixa sem graça não saber o que está acontecendo, por mais que algumas vezes isso seja necessário.

Quando criança e adolescente, enxergava nesse hábito uma pequena qualidade pessoal. Pensando aqui, acho que verdadeiramente nunca esquentei a cabeça com as minhas notas baixas na escola, principalmente quando notava que a maioria das outras crianças estavam afiadas com a lição de ontem e absolutamente nulas com a realidade de hoje.

Ainda que as notícias do dia amanheçam antigas em minha porta, todavia mantenho uma assinatura de jornal impresso; mesmo que seja uma mídia meio engessada, o jornal também se diversificou com o tempo, há editoriais, crônicas, fotos, enfim, fatos que se posicionam além das notícias e com a emergência do tempo. Gosto de ver um caderno perdido em alguma mesa e checar alguma coisa que ainda não tenha visto na rede. Ou então, ler algum prognóstico de algo que já avançou durante o dia. No fim, as informações se completam ou se dissolvem logo de uma vez.

Inicialmente, acreditava que o jornal era a voz da razão, imparcialidade e da verdade absoluta. Com o tempo, obviamente não acredito piamente nem no jornal que assino. Por isso gosto de ler algumas notícias em várias fontes para tentar ter alguma sensatez comigo mesmo. Com a internet isso extrapolou, com a possibilidade de ler um mesmo fato em jornais do mundo inteiro. É o que eu costumo fazer com alguns jornais importantes mundo afora ou de locais que já visitei. Claro que pela dificuldade linguística e impossibilidade de fazer tudo, o objetivo é mais ‘ficar por dentro’. Vale ficar só na manchete de vez em quando? Não vejo problemas, desde que esteja claro que esse é o limite da sua informação de momento.

Se eu tivesse uma empresa ou um cargo diretivo, cobraria dos meus funcionários que estivessem atualizados, seja lá o ramo que fosse. Pararia as máquinas vez em quando e promoveria discussões sem censuras, abertura de opiniões e ideias. Não é o que eu vejo por aí. A maioria forma opinião sobre os fatos, com base na opinião simples na opinião alheia, ou pior, massificada e panfletária. Sendo bem contemporâneo, com base em “mêmes”, ou apenas no que a TV “fala”. O fato de praticar a leitura já estimula o bom argumento e essa é uma ferramenta das mais poderosas, que só pode ser construída e lapidada pelo próprio indivíduo.

Ainda que breve, de vez em quando quero dar um tempo no mergulho em notícias, principalmente quando estou viajando e desejo uma vida um pouco mais leve. Certa vez estava em uma pequena cidade italiana e o proprietário de uma loja de souvenires veio puxar conversa. Quando disse que era brasileiro, ele logo veio querendo discutir sobre nossa tragédia mais recente, e eu estava completamente por fora, pois havia decidido não ler nada sobre o Brasil durante uns dias. Fiquei com aquela cara de bobo, com o italiano me contando algo que eu deveria muito saber, e eu achei que ele não fosse nunca falar. Tentando demonstrar desinteresse para afastar minha ignorância e aproveitando meu escasso domínio da língua italiana, logo troquei o assunto e nem precisei recorrer as intempéries, pois acabamos trocando ideias sobre os nossos labradores que tinham a mesma idade, Elvis e Martì. Que alívio.

Ia abordar sobre a quantidade de coisas ruins que acontecem no Brasil e acabei discorrendo sobre a engenharia disso. Este não é um país que tenha inimigos, guerras e passe por catástrofes violentas. Mas as notícias, de hora em hora, são muito fortes. As pessoas, incluindo a imprensa, elegem uma ou outra para se chocarem uns dias, mas logo passa. Talvez esse passar tão gratuito seja uma das sangrias mais persistentes deste país.

Algumas vezes o jornal permanece na varanda e por lá fica uns dias. O sol se encarrega na tentativa de apagar as palavras que circunda, informa, entristece e algumas parcas vezes, anestesia o leitor da realidade; ainda que no próximo dia, um cheiro forte de tinta sob um papel vagabundo venha deselegantemente lembrar: que dia é hoje.

Arte: Fotografia de ‘The Death of Major Peirson, 6 January 1781’ (recorte)
John Singleton Copley – 1783
Óleo sobre tela
Tate Gallery – Londres

afinal, precisamos de gravatas para fazer arte?

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Esse seria um momento oportuno para discutir sobre a importância e o papel do Estado no desenvolvimento da Cultura no Brasil. Infelizmente, como é de praxe nos últimos tempos, tudo virou um inflamado e histérico balcão político.

Seria interessante discutir o motivo de alguns países desenvolvidos não possuírem um ministério específico para a cultura e ainda assim serem gigantescos culturalmente. O que fazem? Será que isso é viável no Brasil?

Independente de cadeiras burocráticas e outros negócios, é preciso elucidar com alguma didática a amplitude da cultura, que sempre viveu solta, sem amarras de engravatados. Ela está por aí, nas ruas, nas esquinas ou nas últimas décadas, na internet. Mas há segmentos culturais, produtores, ou abrigos diversos que precisam ser esclarecidos.

Será que está claro para a população que os mecanismos de difusão e produção artística não necessitam necessariamente de canetadas burocráticas e amplo financiamento público, principalmente para artistas que são capazes de gerir renda através de seu próprio público consumidor?

Que em contrapartida, algumas ações artísticas e equipamentos culturais são incapazes ou possuem enormes dificuldades de se sustentarem sem apoio financeiro estatal ou privado e é pertinente ilustrar quais são estes órgãos em específico.

Esclarecer com clareza a importância e o alcance do real retorno qualitativo e difusor educacional e intelectual das ações culturais financiadas pelo Estado.

Elucidar ao brasileiro o que é cultura de fato e o que são artistas, sendo que estes obviamente não são necessariamente celebridades e não existe e nem deve existir valor hierárquico sobre isso; para quem sabe assim, aumentar o espectro de interesse e conhecimento, consequentemente somando na compreensão e discernimento sobre tantos outros fatos que acercam a sociedade.

É com pesar que podemos afirmar que, muitos associam cultura apenas com entretenimento, outros com “coisa chata”. A verdade é que todos a consomem quase que diariamente, independente de sua qualidade e meio de difusão. E claro, poucos, mas muito poucos, dão valor a algo que verdadeiramente sustenta um dos alicerces fundamentais do pensar e da sobrevivência humana, pois a arte permanece além de qualquer um de nós.

Não discutir e apenas transformar o tema em pura mesquinharia política e obsessão partidária ou ideológica é mais um afago cego no vazio que ilumina a ignorância

a catarse do recital de Fazil Say

Um breve relato sobre a catarse do recital apresentado pelo pianista turco Fazıl Say, na Sala São Paulo, no dia dez de maio de 2016. Após apresentar com colorido extremamente pessoal, peças de Mussorgsky, Mozart e Gershwin, o prato ainda seria completado com a sua própria composição, a sonata “Gezi Park 2”. Tensa, nervosa, meio que inclassificável e inspirada por acontecimentos políticos recentes em seu país.

Say quebrou com genialidade os limites entre a música de concerto, jazz e melodias populares sem ter gosto algum de “crossover”. Tudo harmonicamente fez um sentido. Sua tecelagem musical fez conexão com naturalidade entre plateia e artista.

Cheguei em casa atordoado, pois não o conhecia. Me deparei com um álbum na internet de composições próprias (İlk Şarkılar), que logo comprei, sem escutar previamente. Pois então descobri uma outra face do artista, que em parceria com a cantora Serenad Bağcan, esparrama delicadeza e harmonia, na qual compartilho aqui.

antes do meio-dia

Imagine essa gana toda da população/políticos/oposição/situação, visando uma completa reforma e reestruturação política? Pois não vamos perder tempo sendo devaneadores, sem que nada seja revisto no valor particular e coletivo que arquiteta a sociedade brasileira.

Primeiramente, todos quesitos de educação, ética e valores da grande maioria dos brasileiros teriam que ser revisados desde o berço. Teríamos todos que aprender e vivenciar a real etimologia das palavras “vantagem”, “respeito” e “direito”.

Não é nenhum factoide, afirmar que comumente tudo começa erroneamente nas primeiras horas de todos os dias do cotidiano brasileiro. Desde as pessoas que nem sequer costumam olhar para o porteiro, que demora horas em seu trajeto diário para alcançar o endereço do seu condomínio, tampouco fingem educação com o vizinho no elevador.

A tal luta de classes e diferenças culturais infelizmente existe e é estimulada pela profunda ausência cultural, inabilidade plena de condução de diálogos, educação e argumentação, resultando em ressentimentos ordinários, centenários e profundos na sociedade brasileira.

Poucos agradecem os seres terrenos e muitos só vivem de clamar a Deus e outras entidades, se travestindo convenientemente de cordeiros da bondade e esperança ou então, se acomodando em doses cavalares de placebos da ignorância e atraso da razão e bom senso.

É clarividente, o estímulo pela busca incessante no objetivo diário de ganhar espaço via força bruta/estúpida, desde a calçada até as avenidas, coletivos e baias de escritório, reverberando não somente nos muros da urbanidade, como até mesmo na escolinha do seu filho e no futuro das próximas gerações que formarão os pilares de construção da ainda frágil república brasileira.

Por fim, assim esfarela-se diariamente e antes do meio-dia, qualquer tentativa de uma estrutura desenvolvimentista e coletivista, minimamente calcada na educação e respeito ao direito individual do próximo e que certamente poderia resultar no engrandecimento e real fortalecimento da identidade brasileira. Plural, democrática e verdadeiramente argumentativa.

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