Seja sobre uma ponte ou na boca da saída de um metrô, o processo de construção de imagens urbanas, digo por mim, que faço todo meu material na rua, é algo extremamente solitário e individualista, não que isso seja um problema, mas uma constatação que não se deve deixar para trás. Muito mais erros do que acertos na linha de contato.
Ficar por um bom tempo em um mesmo local, ajuda muito no processo de camuflagem e entendimento de um ponto específico. Deixar o cérebro na espera, para talvez, de repente começar a enxergar outros desenhos em uma cena. Mas esse processo também não é garantia que vá se construir algum material de qualidade. Há tantas fotos que despertam em “apenas um disparo”, revivendo o eterno clichê fotográfico do momento decisivo. Só que em verdade esse ‘Leitmotiv’ passa por tantas outras estações.
Há um confronto durante todo o tempo. Limitações técnicas, físicas, sociais. Se observa pelo buraco da fechadura para descobrir algo imenso, mas também há momentos para abaixar a guarda e desistir de alguma confecção que só existirá via papel, lápis e alguma imaginação. Não me agrada mexer pecinhas. Respeito o máximo que puder a organicidade da cena, mesmo que recorte algo que não me interessa e por vezes altere completamente a compreensão do espectador, mas me conforta saber que finalizei um trabalho sem deixar rastros, principalmente no meu arquivo pessoal de rememorações.
Finalizando, a moldura da beleza nem sempre é aliada. Talvez essa seja a trucagem mais traiçoeira da fotografia, até mesmo para os olhares mais experientes. Todo cuidado é pouco para não se envolver demasiadamente nesse belo refúgio de delírios visuais.