sopra a dança

No sétimo compasso, foi sua última dança. O silêncio crava. As mãos desvanecem. Passo a feira de quinta. Derramo a feira de quinta. O gato contempla os passos. Passo a contemplação. Passo alto. Passo eu. Passo de leve. Passo também o terraço, passo o banco de madeira. Passo. Passo o pé de manga, passo o pé de goiaba, passo o pé de pêssego, passo o pé de cana, passo o pé de flor, passo os pássaros inquilinos. Passo este verão. Passo por passo. Passo o relógio. Passos perdidos, passos ganhos, fulgurantes passos. Se inflamam emoções simples, emoções nuas, emoções sem enredo. Orquestrações baratas, naipe de metais repercutem em exclusiva missão de rodopiarem os velhos corpos. Dividem os suspiros. Dividem a água pura. Dividem o salão. Dividem a pura sensação. São abrigos. Telhados não tem cor. Cor somente no verde. Das externas paredes. Em cores. Sem ter tempo de se perder, sem ter tempo de abrir a porta para sonhos se atreverem em azuis. Sol rachando o dia. Muito clarão, tempo. Irrefletidos momentos. Caminhos pisados. Saraus reprimidos. Poucas palavras, míseros sorrisos sem afobação. Do segundo. Da dança. Sem quase. O sol é refletor dos velhos. Qualquer coisa de finito. Escalda sol, sopra. Duas horas e meia para a crescente lua. Nem quinze minutos separam a casa que é seu lugar, da dança em décadas de bemóis. Calça os sapatos e dança com sua velha mulher. Meu velho. Abotoa tua velha camisa branca. Na sala acanhada, o telefone divide o quadrado com o tapete tentando silenciar os passos. O cochilo alumia o prelúdio da dança. Fevereiro é quentura. Na televisão os três tentos da seleção brasileira sobre os americanos de camisa azul marinho e gola vermelha. O copo americano vazio aguarda o vinho seco do garrafão dormente, em chão frio. De talher apenas o garfo, que raspa elegante a comida sobre prato de vidro marrom. Almoçou meio-dia e pouco como sempre. Olha no alto. Orvalho preguiçoso desperta o mato. Sopra a manhã. Sopra o topo das árvores. Verte a dança, sopra o sétimo compasso. 

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